João
Nunca soube descansar
Vida inteira a trabalhar
O teu corpo não é máquina, João
Será que não?

José
Sempre avesso a levantar
Bate o ponto com penar
O teu corpo não é máquina, José
Ou será que é?


Canhota de zagueiro
de moleque sonhador
virou canela de pedreiro
em coração de sofredor

Quentura na moleira
Faz miolo se indispor
no balaio a boia fria
desce junto com o rancor


João
Nem sequer um só queixar
Tanto tempo a se curvar
Teu suor também é lágrima, João
Será que não?

José
Tudo mais é resmungar
Tanto afinco em rosnar
Teu suor também é lágrima, José
Se é, se é


Gangorra chicoteia
no sentido interior
sente o cinto da boleia
atando o peito aonde for

Assobio faz estrada
a quem silêncio se forjou
Ás na palavra cruzada
Viver com 3 letra é dor


João
Já nem sabe mais brincar
Só toada a sussurrar
Tua casca tá tão dura, João
Será que não

José
Só sacia se sangrar
Cada tapa é pra vingar
Tua casca tá tão dura, José
Pois é, pois é